Poema à última tarde...
Tonho França

 

 

 


Dentro da palidez dos temporais
um sol vermelho de corais e flores
pousa nos beirais de alguns olhos que ainda podem ver
tantas vozes a anunciar um outro ciclo
Presas dentro das espirais do tempo
Grávidas de vida, ávidas pelo grito
Devorador de silêncios e mitos do paraíso
Rasgando as faces e crenças,
Libertando manadas de anjos malditos
Que cuspiam navalhas sobre os vivos
Dentro da palidez dos temporais
Quando o sol era mais que vermelho
E mortais eram os corais e flores
Tomei-te pelas mãos
E três vezes falei teu nome
E três vezes lancei-te ao mar
Para que andasse nua pelas ondas
E teu seio claro alimentasse as constelações
E foste o recomeço da vida
Foi dentro da palidez dos temporais
de uma manada de sóis vermelhos
que tomei-te pelas mãos
E três vezes matei-me.